segunda-feira, 26 de setembro de 2011

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, ESTADO NOVO E OS CLUBES "DE COLÔNIA": 69 ANOS DO CASO PALESTRA ITÁLIA

No último dia 20 de setembro, o Palmeiras comemorou o episódio que o clube classifica como “Arrancada Heroica”, ou seja, a final do campeonato paulista de 1942 em que o antigo nome Palestra Itália foi substituído por Sociedade Esportiva Palmeiras.

1942 ficou marcado como o ano de maior pressão do Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-45) sobre as instituições de imigrantes no Brasil.

Era o ápice da Segunda Guerra Mundial, o governo brasileiro que até ali havia titubeado em relação ao lado que iria se aliar, ficando entre o nazi-fascismo italiano e alemão e à política da boa vizinhança dos EUA, acabou optando pelo segundo.

Então, o Estado Novo declarou guerra ao Eixo: Alemanha, Itália e Japão.

Ao mesmo tempo, foi ampliado o projeto nacionalista. Sob a política assimilacionista. O Estado Novo e alguns grupos tidos como “nacionais” passaram a perseguir imigrantes e instituições que representavam os grupos que, por decreto, se tornaram, de uma hora para outra, inimigos.

Diversas instituições, dentre elas, os clubes “de colônia” – como os classificava Thomaz Mazzoni -, muitos já reconhecidos e de grande torcida, foram obrigados a se movimentarem politicamente e administrativamente para não só evitar a extinção, mas também para poderem manter seu patrimônio, há anos conquistado e que eram objeto de cobiça dos rivais:

“(...)Então, nós passamos depois disso a nos chamar Sociedade Esportiva Palmeiras.
Então eles tentavam, eles queriam naturalmente, é evidente que queriam, porque eu
participei, eu sou figura viva que presenciei e participei. Quantas vezes caminhões com
gente do São Paulo apareciam por lá de noite, querendo se ismicuir nas coisas do Palmeiras
e tomar o Parque Antártica. Como eles não conseguiram êxito nessas tentativas, eles foram
tomar a Associação Alemã de Esportes, tomaram, que é onde está a que foi chamada Ilha
da Madeira, Canindé. Que eles tomaram e eu não sei como eles venderam para a
Portuguesa se aquilo não era deles. Então, não conseguiram tirar o Palmeiras, mas tiraram
os alemães da Associação Alemã. A história é muito terrível. Eles foram muito
causticantes, muito odioso, rancorosos. E deixa a gente com resquício de prevenção. Porque
eu sempre digo, eles seriam até capazes de praticar uma boa ação. Nunca vi tanto ódio (...)”.

Depoimento de Paulo Schiesari (1924-1997), conselheiro vitalício do Palmeiras, sobre ações que teriam sido praticadas por pessoas ligadas ao São Paulo Futebol Clube, no período da perseguição às associações de imigrantes de países ligados ao Eixo. *

Sob esse clima se deu a final do campeonato pualista de 1942. O São Paulo Futebol Clube enfrentaria o Palestra que podia nem entrar em campo. Porém, com diplomacia os dirigentes palestrinos modificaram o estatuto e fizeram surgir a Sociedade Esportiva Palmeiras. No jogo final, os jogadores, aogora palmeiresnses, eram escoltados pelo capitão Sylvio Magalhães Padilha. Uma garantia a mais para que o time, agora, verde não seria barrado ao entrar em seu próprio estádio.

Resultado: após vencer a partida por 3 a 1 (aos 21 minutos, do segundo tempo, o tricolor abandonou a partida), o Palmeiras nascia campeão.

Além do Palmeiras, que anos antes já havia tentado, em vão, trocar do nome Societá Palestra Itália para Palestra Itália de São Paulo, outros clubes agiram de forma semelhante. Entre eles:

A Sociedade Esportiva Palestra Itália de Minas Gerais passou a chamar-se Cruzeiro Esporte Clube;

O Sport Club Germânia tornou-se Esporte Clube Pinheiros.

O Clube Espéria, Associação Desportiva Floresta, depois, conseguiu retornar ao antigo nome.

O Hespanha Foot Ball Club, de Santos, que veio a tornar-se Jabaquara Atlético Clube.

Além de muitas outras instituições, perseguidas num momento dramático na história mundial e brasileira. Momento de um nacionalismo militarizado ao extremo, em que não há mocinho ou bandido, mas, sim, intolerância.




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